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Módulo 1: como os povo antigos
viam o Universo? |
Vamos iniciar o nosso curso de Cosmologia
falando sobre o desenvolvimento de um idéia. Uma idéia
absurdamente ambiciosa: saber se, e consequentemente como, o
universo se formou e quais são as leis que o governam. Nosso
objetivo é apresentar os conceitos básicos sobre os quais se
baseia a cosmologia moderna. A palavra Cosmologia tem
origem grega e é uma junção de kosmos, que quer dizer
"mundo", e logia (que se origina de legein) que
significa "falar sobre".
Nossa abordagem seguirá,
sempre que possível, a trilha histórica deixada por aqueles
que se aventuraram por esse intrincado caminho. Tentaremos
mostrar como foram desenvolvidas as idéias sobre as quais a
teoria cosmológica foi crescendo até chegar ao que ela é hoje.
No entanto, é preciso muito cuidado ao estudar a
história da cosmologia, em particular da sua fase mais antiga.
Certamente estaremos pisando num terreno minado, dominado por
mitos religiosos e misticismo que nada têm a ver com a ciência
moderna. O fato de alguém ter dito há milhares de anos que o
universo era, por exemplo, infinito, de modo algum deve ser
encarado como um conhecimento científico já estabelecido
naqueles tempos remotos. Ao contrário, todas estas afirmações
devem ser vistas como pura especulação.
É importante
ter cuidado com o que você lê sobre cosmologia, em particular
na Internet. Você sabe que, na época de hoje, para fazer a
disseminação de bobagens nada melhor do que a Internet.
Como grande colaboração à disseminação de tolices
surgiram ultimamente pseudos-historiadores que, algumas vezes
por paixão mística e outras vezes por paixão monetária, têm
procurado transformar livros religiosos antigos em verdadeiros
mananciais de descobertas científicas. Isso tem se tornado uma
prática comum nos últimos tempos. O que antes era prerrogativa
de religiosos, defenderem sua fé baseados em textos divinos,
hoje passou a ser um meio de angariar dinheiro. Deforma-se a
história com base em analogias falsas, absolutamente espúrias,
que em seguida são vendidas, com a maior "cara-de-pau", como
sendo verdades. Alguns físicos passaram a fazer parte desse
clube, em particular o senhor Fritjof Capra, um físico
austríaco que escreveu um livro onde procura estabelecer
analogias absurdas entre a mitologia hindu e a ciência
moderna. Um outro famigerado membro deste clube é o senhor
Dick Teresi capaz de "descobrir chifre em cabeça de burro" se
for preciso para provar que os hindus sabiam tudo há milhares
de anos. Escritores chineses, tais como Fang Li Zhi e Li Shu
Xian, também não ficam atrás. Para eles os filósofos chineses
inventaram o mundo!
Lembre-se sempre disso:
Os ensinamentos gerados
pelos povos antigos eram descritos de maneira tão geral
e tão vaga que qualquer um pode facilmente atribuir
qualquer significado a
eles. |
Eu não sou
historiador e não quero sê-lo. No entanto, no caso da
Cosmologia, é no mínimo incompleto não falar sobre como as
civilizações antigas desenvolveram o seu conhecimento sobre o
Universo. Embora seja feita uma pequena digressão histórica no
começo deste curso, nossa missão será apenas ciência. Não
estou preocupado com conceitos religiosos e não pretendo
discutí-los. Se esta é a motivação principal de algum
participante deste curso eu o aconselho a desistir e procurar
outro caminho. Apesar disso algumas religiões serão citadas no
início do curso e por um motivo óbvio: a mitologia sobre a
formação do universo passa pelas religiões antigas. A
separação ciência-religião só irá ocorrer para alguns
filósofos gregos mas, com a dominação do cristianismo e o
advento da Idade Média, tudo irá se misturar de novo.
A ciência moderna procura o fato científico, a
observação e a teoria que podem descrever o universo atual e
falar de sua origem, se é que isso aconteceu. Também procura,
com base nos fatos anotados, descrever um possível destino
para tudo que conhecemos. Ela não se baseia em mitos. Aqui não
há livro divino: tudo que está escrito um dia poderá ser
lançado na lata de lixo da ciência. E isso já aconteceu antes,
várias vezes! Não sobrevivemos a base de dogmas. O que é dito
em ciência precisa ser provado, comprovado, cheirado, medido,
examinado, cutucado, alisado, etc, até que possamos ter
certeza de que descreve algo corretamente. É assim que se faz
ciência. Qualquer outra coisa é mitologia.
Durante
todo esse primeiro módulo do nosso curso você verá que o
estudo do universo feito pelos antigos pensadores irá se
limitar quase que exclusivamente à observação do Sistema
Solar. Isto era motivado pelo fato de que somente a Lua, o
Sol, cinco planetas e as estrelas eram os objetos celestes
capazes de serem observado pelos filósofos naturais. Este era
o universo observável dos povos antigos, o seu "universo
local". Ainda levaria muito tempo até que os cientistas
tivessem uma visão correta (?) do Universo. Hoje sabemos que o
Sistema Solar faz parte de uma Galáxia e que existem bilhões
de galáxias em todo o Universo. Mais tarde veremos que, mesmo
com a invenção do telescópio, ainda passariam alguns séculos
até que os cientistas soubessem que a nossa Galáxia não era
o Universo. Veremos no módulo 2 a enorme disputa
que essas idéias geraram em grupos rivais, aquilo que hoje
chamamos de "Grande Debate". No momento nos preocuparemos com
as descrições do "universo" feitas por aqueles que há milhares
de anos tiveram a ousadia de olhar para o cosmos e pensar
sobre ele.
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